sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mal Amor-Alan Avlis

Os dias novos esgotaram-se todos.As coisas já nascem gastas e perecidas.Corroídos pelo
tempo que avança ante a matéria,estamos os dois chafurdados em esperanças antigas.Que
nada resolve,que nada dissolvem,então persiste a nódoa e a coisa grossa entupindo narinas.
Velhos velando um o corpo do outro.Sujos,odiando o medo nos olhos do outro.Línguas
amando com o tato o todo.Escreveram com letras douradas"Tenha fé no processo orgânico
das 'coisas':conceber,degenerar e perecer.E o resto ao nada cabe.
Quero ser franco,pois te quero fraco,paralítico de querer para que eu possa te conduzir
pelos meus roteiros,pela minha reta.De mim quer a cegueira,que eu não enxergue,não o
reconheça,para que possa com sua mão me levar à beira do penhasco e assistir a minha
queda sem as asas que nem a Ícaro ajudaram.
Te dou o sopro de vida para depois te expor ao asco do mundo,banhar-te em rios de
sangue e horrorizado com a miséria humana implore outra vez pelo pó.Me deste a
promessa de alívio da morte,mas me escraviza a um viver apático e sem ambição,me
fazendo suplicar pela bala cravada na testa.
Pela noite me procura e me fareja, me abate e destrincha com sua bocarra dentada a carne
de sua mais fácil pressa.Em pleno dia te desejo a silhueta e admiro tua fisionomia,traçando
com minha língua a tua escultura.Nesse mister de ideias confusas te liberto e te confundo.
Me tentas e me renega.Afundamos um pouco mais no fundo do poço de água enlameada
e sob nossas cabeças fecha-se a saída.

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